As doenças causadas pela má alimentação dos equídeos
Cólica, desnutrição, rabdomiólise, cara inchada e são alguns das distúrbios gerados pela alimentação incorreta
Ao olharmos atentamente para os cavalos e observarmos com atenção seu comportamento podemos vislumbrar toda beleza e perfeição que definem esses animais. O andar, galopar, interagir, relinchar, dormir e comer são atividades que encantam quem realmente ama os equinos. Dessas citadas, um dos comportamentos mais influenciados por nós, humanos, é a alimentação. Na natureza, sem a nossa interferência, os cavalos se alimentam de gramíneas, leguminosas e, se disponível, alguns frutos. Ainda, o comportamento alimentar natural do equino é caracterizado pela ingestão contínua de alimentos fibrosos, em pequenas porções, o que permite aos equinos realizarem a fuga, em casos de predação (sim, os cavalos são presas na natureza), e também facilita sua adaptação ao ambiente onde vivem, de acordo com variações na disponibilidade de alimentos.
Quando confinamos nossos animais, seja em piquetes ou cocheiras, delimitamos sua área de alimentação, e coagimos, de alguma forma, à ingestão de alimentos concentrados, com grãos e cereais, alimentos esses que, geralmente, não fariam parte da natureza do cavalo. Assim, deixamos nosso animal predisposto a alguns distúrbios importantes, cujas causas são de origem alimentar. A seguir, cito as principais ocorrências de doenças e distúrbios causados pela alimentação inadequada dos equinos e como podemos evitá-las.
Cólicas
Desnutrição
Todo cavalo, ao ser utilizado para qualquer finalidade (esporte, trabalho ou reprodução) deve receber nutrição adequada, que supra suas necessidades nutricionais. A ingestão de gramíneas de baixa qualidade, ou rações inadequadas, predispõe os equinos à desnutrição, levando à queda no desempenho, perda de peso corporal e baixa taxa reprodutiva. Ainda, um programa alimentar ineficiente, com falta ou excesso de alguns nutrientes também pode levar a falhas nutricionais. A suplementação com sal mineral específico para equinos é indispensável para animais atletas e para reprodutores, uma vez que a deficiência de alguns minerais importantes, como selênio, por exemplo, pode desencadear em baixo desempenho reprodutivo. Assim, devemos disponibilizar aos cavalos sal mineral de boa qualidade, sendo que em alguns casos específicos, podemos fazer a ingestão forçada do sal, adicionando a quantidade recomendada de ingestão diária junto com uma porção da ração. Animais que desempenham atividade diária e intensa devem ser nutridos de acordo com suas necessidades, para que sua resposta ao exercício seja a melhor possível.
Rabdomiólise
Não é raro vermos cavalos com sobrepeso atualmente. Com a intenção de agradar seus animais, muitos proprietários fazem uso de uma dieta rica em petiscos, como cubos de açúcar, por exemplo, e ainda, acabam exagerando na ração.
Doenças ortopédicas do desenvolvimento (DODs)
As DODs são doenças que acometem os potros. Geralmente o início do treinamento desses animais, que ainda estão em desenvolvimento, associado a uma nutrição inadequada, podem acarretar em um desequilíbrio no processo de crescimento ósseo. Essas doenças comumente acometem os potros que não recebiam ração específica enquanto estavam com as mães, em período lactente. Também, níveis adequados de cálcio e fósforo são essenciais para a mineralização e crescimento normais dos ossos. Por isso, para se evitar as DODs o ideal é oferecer ao potro ração específica a partir da primeira semana de vida; para tal, o uso do creep feeding é indispensável durante a lactação. Ao iniciar os potros nos exercícios, devemos fazer de forma leve e contínua, respeitando a fisiologia do animal.
“Cara inchada”
Algumas pastagens ricas em oxalatos, que são compostos presentes em algumas gramíneas, podem fazer com que ocorra desequilíbrio entre cálcio e fósforo da dieta. Pastagens exclusivas de Braquiaria humidicola e outras espécies de braquiária, também o Panicum maximum cultivar Aruana, contêm níveis consideráveis desse elemento. Assim, nos equinos, a ingestão inadequada de cálcio, ou o consumo demasiado de fósforo ou oxalato, reduzem a concentração plasmática do cálcio, o que pode ocasionar o hiperparatireoidismo nutricional secundário, conhecido como “cara inchada”. O principal sinal dessa doença é a aparência de inchaço da face, alguns animais podem apresentar ainda claudicação e caquexia. A prevenção da “cara inchada” consiste em promover a suplementação com sal mineral específico para equinos, contendo, de preferência, o cálcio na forma quelatada, que apresenta uma maior digestibilidade.
Enfim, promover o correto manejo alimentar dos equinos é sempre o melhor caminho na prevenção de doenças causadas pela nutrição inadequada. Cada fase de vida do cavalo deve ser respeitada, sendo que, para cada uma delas, há uma exigência nutricional específica. (Artigo publicado na edição 90 da Revista Horse)

Sabrina Funari
é Zootecnista graduada pela FZEA/USP
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