10-Abr-2017 17:04 - Atualizado em 04/02/2021 15:58

Bardoto ou Bis-Burro - A ramificação do muar pouco convencional no Brasil

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Herman
Como todos sabemos, muares são um produto híbrido, oriundo do acasalamento entre equídeos. Por essa razão podemos acasalá-los de duas maneiras. A primeira e tradicional é que o asinino cubra a égua, dando origem aos burros e mulas. Outra possibilidade é fazer com que o garanhão cubra a jumenta. Normalmente, mundialmente falando, o que acontece com maior intensidade é a primeira opção. Poucos criadores adotam a segunda alternativa como norte em seus criatórios, mas quando os fazem os produtos passam a ter outras denominações populares que são chamados de bardotos, bardotas ou, ainda, de bis-burros. O que faz os criadores tomarem posturas diferentes é um motivo que também será discorrido aqui.

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Comercialmente, as jumentas têm, na média, um valor de mercado inferior ao dos jumentos. A procura por elas é menor e, assim sendo, acabam se acumulando com o passar dos anos. Para que as de qualidade inferior não fiquem ociosas, alguns as acasalam com o garanhão da fazenda. Outro fator que leva a isso é quando o criador tem uma estima muito grande por um garanhão que possui. Ele acredita que seu reprodutor será o superpai ideal para os híbridos que produzirá. Acredita que esses indivíduos serão diferenciados, supostamente a exemplo do pai. Só para conhecimento, em alguns lugares do planeta se acasalam as zebras com equinos e asininos também. No Brasil não temos notícia deste tipo de criatório.

Por que denominações diferentes para burros e mulas, filhos do jumento com égua, e bardotos e bardotas, do garanhão com a jumenta? Simples de entender: eles têm uma aparência diferente. A variação visual pode ser muito discreta ou grosseira. O termo bis-burro vem justamente por esta razão. Em outros idiomas os muares são chamados de mulos ou mulas. Em castelhano, o jumento tem a denominação de burro. Os bardotos, na grande maioria dos casos se assemelham mais às mães, por isso bis, repetir, a aparência dos asininos. Assim surgiu o termo bis-burro. Temos que ter em mente que os asininos são prepotentes no acasalamento, cerca de 60% das características vêm deles.

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Na criação tradicional, as éguas por seu tamanho contribuem melhor  para o êxito da produção. Tem um útero maior, consequentemente o feto tem mais espaço para se desenvolver. A cérvix, colo do útero, é mais dilatada, facilitando a fecundação. O jumento tem, em média, muito mais espermatozoides do que o garanhão. Quando ela pare, costuma ter bem mais leite. Nela o muar mama com menos prejuízo a seus aprumos, também por causa da altura da égua, em relação ao solo. As mães também se movimentam mais e têm mais brio que as jumentas, estímulos que vão para o neonato.

Na criação de bardotos, alguns garanhões não conseguem fecundar, ou não cobrem ou não tem capacidade de vencer a cérvix da jumenta. As asininas têm um útero apertado para um produto que deverá ser bem maior do que elas, fazendo com que algumas características sejam diferentes, as garupas são mais escorridas e as cabeças mais feias. Outro problema vem no momento do parto, algumas morrem por não ter tamanho e dilatação suficiente para um filho bem maior. O volume de leite é, na média, menor. Os bardotos, tendo vencido todas as dificuldades, mamam em uma fêmea bem menor que o pai, consequentemente, a probabilidade de ter aprumos prejudicados é bem maior.

Por todas as variações descritas é que a produção se dá em larga escala com reprodutores asininos. Nas entrelinhas percebe-se também que a produtividade é bem maior. Até a próxima!

Martin Frank Herman

Martin Frank Herman

É proprietário do Criatório Campeãs da Gameleira e colunista da Revista Horse. E-mail: herman@campeasdagameleira.com.br 

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