Como foi a mais tumultuada eleição da história da CBH
Kiko Mari é eleito presidente; chapa de Bárbara Laffranchi e apoiadores abandonam assembleia oficial para fazer uma “eleição paralela” no corredor
Antes mesmo do início do pleito, marcado para as 14h, já havia muita expectativa se a eleição realmente chegaria ao fim, já que a primeira eleição, realizada em 30 de novembro de 2020, foi cancelada, com as duas chapas impugnadas pela Comissão Eleitoral. De lá para cá não faltaram golpes e contragolpes nas redes sociais, com denúncias, troca de acusações de ambas as partes, incluindo “falsificação de documentos” que foram parar na Polícia.
Com mais de 40 graus na Capital fluminense, a assembleia oficial foi aberta pontualmente, sem a presença de muitos integrantes e apoiadores da chapa oposicionista “CBH Forte e Ativa”, que foram entrando aos poucos. Membros do grupo chegaram a afirmar que estavam sendo “barrados” na entrada, mas todos acabaram entrando e confirmando presença. Ao todo, a assembleia começou com representantes de 19 federações e cinco cavaleiros, sendo que mais dois atletas estavam habilitados a votarem de forma virtual.
Logo no início, foram apresentadas “questões de ordem”, já com os ânimos bem exaltados. O primeiro questionamento foi sobre a legalidade do atual presidente da CBH, Ronaldo Bittencourt, presidir a mesa. A chapa de oposição alegou o fato de Bittencourt ter sido anunciado como candidato e, posteriormente, ter desistido para apoiar a chapa “Hipismo para Todos”, representando a situação. Segundo o candidato a vice-presidente da chapa “CBH Forte e Ativa”, Fernado Sperb (Fêfo), a participação de Bittencourt na presidência da mesa era “ilegal e imoral”. O presidente da Comissão Eleitoral, Alexandre Monglilhott, não acatou o pedido, alegando que o Estatuto da CBH veda a participação caso o presidente fosse candidato, e não impede de ter “uma preferência pessoal”.
A representante da Federação Catarinense de Hipismo (FCH), Sandra Piva, e o presidente da Federação Paranaense de Hipismo (FPrH), Rodrigo Otávio Kost, insistiram que a Assembleia era “soberana” sobre a Comissão Eleitoral (CE) na tomada de decisões das questões apresentadas, a maioria delas sobre pedidos de impugnação. Vale lembrar que as “suspeitas” sobre a isenção dos membros da Comissão Eleitoral já tinham sido levantadas pela chapa “CBH Forte e Ativa” em ação impetrada na Justiça antes da primeira eleição (30/11/20), entre outros pontos questionados. Na ocasião, a Justiça não reconheceu o pedido de suspeição e reconheceu a legalidade da Comissão Eleitoral. Na assembleia de sexta-feira, a presidência da Comissão também não acatou os argumentos de "soberania da assembleia", sob a alegação de que o estatuto da CBH garantia à Comissão o poder de decidir sobre a eleição. “A assembleia delibera o que está na pauta e cabe à Comissão Eleitoral decidir sobre matéria eleitoral”, afirmou à Revista Horse o presidente da CE, Alexandre Monglilhott.
O presidente da Federação Paranaense, Rodrigo Kost, conhecido no meio como “Boca”, era um dos mais exaltados. Chegou a questionar a presença da imprensa que fazia a cobertura da eleição (além da Revista Horse, estavam presentes representantes do site Brasil Hipismo e Revista Hipismo), alegando que era “ilegal”, pois não estava no edital. A mesa alegou que a presença da imprensa era justamente para dar transparência a todo o processo. Kost também criticou, de forma enérgica, um dos membros da Comissão Eleitoral, Rodrigo Moraes, no momento que ele tirou a máscara de proteção contra a Covid-19 para beber água. “Você está contaminando todo mundo”, disse, em tom de provocação.
Não faltaram bate-bocas paralelos, gritos e, em determinado momento, até insinuações de enfrentamento físico. Os ânimos estavam tão alterados nas colocações efusivas de argumentos que o cavaleiro José Roberto Reynoso Filho, presente como representante dos Atletas, chegou a gritar do fundo da sala “Vamos pensar nos cavalos”, tentando recolocar a discussão em um foco. Em vão!
Impugnações
Um dos pedidos de impugnação da chapa “CBH Forte e Ativa” durante a assembleia era para vetar a participação da Federação Equestre do Ceará (apoiadora da chapa de situação), que estaria em “débito” com a Confederação, por não ter quitado uma multa de um concurso cancelado no final do ano passado. A Comissão Eleitoral rejeitou, alegando que não havia nenhum documento que comprovasse inadimplência financeira.
Outro ponto que revoltou a chapa de oposição foi a impugnação do direito ao voto da Federação Equestre do Espírito Santo, que, segundo a mesa, entregou a documentação de regulamentação” fora do prazo, no dia da eleição, sendo que a data limite estabelecida em edital era o dia anterior, 28 de janeiro”. “Sinto muito, mas temos que seguir o regulamento”, justificou o presidente da Comissão Eleitoral.
O mesmo argumento foi utilizado para manter a impugnação da participação da Federação Equestre de Alagoas, que já havia sido impedida de votar por apresentar “documentos fraudados”, conforme foi veiculado na imprensa (Veja AQUI a reportagem e AQUI a cópia do documento que teria assinaturas falsificadas). A chapa “CBH Forte e Ativa” chegou a apresentar uma nova documentação de representação, que também foi recusada por estar fora do prazo, que seria o dia anterior (28/1), segundo a direção da Comissão.
São Paulo e Rio de Janeiro
A participação da Federação Paulista de Hipismo (FPH) no colégio eleitoral, que incialmente estaria impedida de votar por causa de uma inadimplência de R$ 2.716,00 com a CBH, acabou sendo aceita pela Comissão Eleitoral, em razão de uma liminar expedida pela Justiça do Rio de Janeiro. A CE considerou que José Vicente Marino (apoiador declarado da chapa “CBH Forte e Ativa) estava apto a votar.
Com a FPH habilitada, a maior surpresa da eleição do dia 29 acabou ficando por conta do pedido de impugnação do voto da representante da Federação Equestre do Rio de Janeiro (FHRJ), Alejandra Fernandez, eleita no final do ano passado. A solicitação foi feita pela chapa “Hipismo para Todos”, alegando que a nova presidente era estrangeira (espanhola) e, pelo estatuto da CBH, não poderia participar diretamente do processo eleitoral da entidade. A chapa de oposição alegou que Alejandra Fernandez é sim de origem espanhola, mas mora no Brasil há mais de 30 anos e está com o processo de naturalização em andamento. A CE não acatou a argumentação, afirmando que o processo de naturalização precisaria estar concluído.
A decisão revoltou os membros e apoiadores da chapa “CBH Forte e Ativa”, que decidiram abandonar a assembleia oficial e realizar uma “assembleia paralela” no corredor das dependências do Prodigy Hotel, com a presença de uma tabeliã de Justiça, previamente convocada, segundo relato dos próprios membros. “Ronaldo, você é o cara que eu mais defendia e nunca imaginei que poderia fazer esse tipo de coisa”, criticou Fernando Sperb (Fêfo), candidato a vice-presidente da chapa “CBH Forte e Ativa”.
Logo em seguida, a mesa anunciou José Francisco Mari (Kiko) e João Loyo como presidente e vice-presidente, respectivamente, eleitos por unanimidade entre os presentes, com o atual presidente da CBH, Ronaldo Bittencourt Filho, dando posse imediata. Segundo apurou a Revista Horse, os votos não registrados das demais entidades e atletas que assinaram a ata e deixaram a assembleia foram considerados como “abstenção”.
Assembleia paralela
A reportagem da Revista Horse, que acompanhou o pleito com apenas um representante autorizado pela organização, continuou acompanhando a assembleia oficial. Ao final, ainda tentou ouvir Fernando Sperb, advogado e candidato a vice da chapa “CBH Forte e Ativa”, que preferiu não se pronunciar no momento. “Ainda estou um pouco nervoso com o que ocorreu, falamo-nos depois”, justificou, enquanto deixava o espaço de convenções.
Vídeos que circularam nas redes sociais registraram todo o processo da “assembleia paralela” realizada nos corretores do Prodigy Hotel. Nas imagens, é possível ver o presidente da Federação Paranaense, Rodrigo Kost (o Boca), que havia questionado a presença da imprensa na sala oficial, procurando a “imprensa” para registrar o ocorrido (veja o vídeo AQUI). Em seguida, o próprio candidato a vice, Fernando Sperb (Fêfo) chama a tabeliã de Justiça presente para que seja “registrada a ata” e anuncia: “Pessoal, então vamos começar a nossa assembleia aqui, assembleia que nós reconhecemos como correta e, de acordo com o estatuto da Confederação Brasileira de Hipismo, eu coloco em votação a eleição do presidente da mesa de nossa assembleia....”.
Segundo números divulgados pela chapa “CBH Forte e Ativa”, ao todo 11 representantes de federações e quatro de atletas votaram na chapa de oposição, com Yara Amaral, representante dos atletas, votando de forma virtual, por meio de uma chamada em vídeo pelo celular. Pelas contas da chapa, a soma dos votos totalizou 2.052 pontos, de um total estimado em 3.673. “Sendo por isso encerrada a assembleia, declaro por vencedora a chapa Bárbara Laffranchi e Fernando Sperb. Nesse momento, por analogia também, dou posse à nova diretoria”, encerrou, sob os aplausos dos presentes.
Logo após o encerramento da eleição, o presidente da Federação Paulista de Hipismo (FPH), José Vicente Marino, publicou um comunicado nas redes sociais, se posicionando sobre o ocorrido. Veja AQUI
No domingo, 31 de janeiro, o presidente eleito da CBH, José Francisco Mari (Kiko), também publicou no site da CBH um comunicado. Veja AQUI
Veja, abaixo, as entrevistas da Revista Horse em vídeo com o presidente eleito na eleição oficial da CBH, Kiko Mari, e o presidente da Comissão Eleitoral, Alexandre Monglilhott, realizadas logo após o encerramento da eleição. Como colocado no texto, a reportagem da Horse também procurou o candidato a vice-presidente da chapa "CBH Forte e Ativa", Fernando Sperb, mas ele preferiu não se pronunciar.
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