Porteiras abertas à temporada de monta
Neste período a nutrição e a condição corporal da éguas podem adiantar ou atrasar a entrada em estação reprodutiva
Quando falamos em reprodução equina, alguns aspectos referentes à fisiologia dessa espécie devem ser abordados para entendermos o motivo da importância de um controle reprodutivo mais próximo e frequente. Fisiologicamente, classificamos as éguas como poliéstricas estacionais, ou seja, possuem o ciclo reprodutivo apenas em uma época do ano. Esse período é conhecido como temporada ou estação de monta e acontece durante a primavera e verão, mais precisamente entre os meses de setembro e fevereiro, quando a quantidade de luz diária é maior e ela é responsável pelo estímulo do ciclo reprodutivo. Nos meses de outono e inverno, devido a menor incidência de luminosidade, as éguas entram em um período que chamamos de anestro, quando todo trato reprodutivo e hormonal fica inativo.
Os períodos de estação reprodutiva e anestro estão interligados por um período chamado de transicional, que ocorrem geralmente nos meses de agosto e março. São períodos de adaptação fisiológica para iniciar ou encerrar uma temporada reprodutiva.
Para que todos esses fatores sejam diagnosticados com precisão, é fundamental a presença de um profissional experiente e que conte com o auxílio de um bom exame ginecológico associado à ultrassonografia para determinar se uma fêmea encontra-se em anestro, transacional ou já em plena estação reprodutiva.
Esse diagnóstico é muito importante, pois é muito comum algumas éguas começarem a manifestar cio nos meses de agosto e setembro, porém, às vezes, sem a presença de uma ovulação (liberação do oócito ou gameta feminino) e como consequência teremos uma égua submetida à monta, porém sem resultar em prenhez.
Quando temos a presença de um controle mais próximo, através dos exames citados, o médico veterinário consegue diagnosticar esse “falso” cio (sem ovulação) e não submete a fêmea a uma cobertura desnecessária. Dessa forma também, é possível afirmar o momento que essa fêmea entrou na estação reprodutiva.
Durante a temporada de monta, a presença do médico veterinário da reprodução é fundamental para a realização do controle reprodutivo para otimizar as montas naturais ou inseminações artificiais. O registro de todas as informações sobre aquela ou essa fêmea é essencial para o controle do número de prenhezes, taxas de perdas embrionárias e fetais. Esses números são fundamentais para garantir o sucesso de uma criação.
A égua é uma espécie que possui um estro (cio) muito longo, varia de cinco a sete dias, sendo que o momento da ovulação é muito impreciso. Por esta razão, há muitos anos, alguns criadores estipulam montas naturais em dias intercalados durante todo o cio da égua. Isso gera em torno de três a quatro coberturas em período de sete dias, sendo que cada cobertura gera um enorme desafio ao útero da égua, pois além de sujidades, o volume do sêmen do garanhão é alto, variando de 50 a 100 ml.
Como objetivo, o médico veterinário precisa fazer com que a monta ou inseminação artificial ocorra muito próximo ao momento da “ruptura” desse folículo, evento conhecido como ovulação. Além desse controle reprodutivo durante a estação de monta com o intuito de otimizar as taxas de prenhez, o acompanhamento da gestação pelo exame ultrassonográfico é muito importante para poder tentar prevenir algumas alterações como placentites, abortos inesperados, entre outros.
Enfim, podemos afirmar que nos dias atuais e futuros, os resultados de prenhez dentro de uma propriedade dependem diretamente de um profissional habilitado e capacitado para realizar todo esse controle reprodutivo, principalmente devido à inserção crescente das biotecnologias como inseminação artificial e transferência de embriões. (Artigo publicado na edição 71 da Revista Horse)

Kadu Camargo
Professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, responsável pelo G.E.R.E. (Grupo de Estudos em Reprodução Equina PUCPR); Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Animal: Equinos, na área da Reprodução Equina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). E-mail: [email protected]
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